Mercado Surpreende, Reduz Projeção de Inflação e Mantém Selic Firme Apesar de Crise Externa

Em movimento inesperado, economistas diminuem a expectativa para o IPCA de 2025 pela primeira vez em sete semanas, mostrando confiança na política monetária doméstica em meio à tempestade global.

Numa demonstração de resiliência, ou otimismo, frente a um cenário externo cada vez mais tenso, o mercado financeiro brasileiro deu um voto de confiança à economia doméstica. O Boletim Focus, divulgado nesta manhã de terça-feira (30), revelou uma queda na projeção de inflação (IPCA) para 2025, o primeiro recuo após sete semanas consecutivas de altas ou estabilidade.

Apesar da escalada da guerra comercial iniciada pela tarifa de 100% anunciada por Trump, os economistas mantiveram suas projeções para a taxa Selic e o PIB, indicando uma aposta na capacidade do Banco Central de controlar os preços e na solidez dos fundamentos locais. A única concessão à crise externa continua a ser a cautela com o câmbio.

Inflação (IPCA): Uma Trégua Bem-Vinda

O destaque do relatório foi a revisão para baixo na expectativa para a inflação de 2025. A mediana das projeções cedeu de 3,80% para 3,78%. Embora a queda seja marginal, sua importância simbólica é enorme, pois quebra uma longa sequência de piora nas expectativas e ocorre em um momento de forte estresse global. Para 2026, a projeção manteve-se em 3,60%.

A melhora pode ser atribuída a dados recentes de inflação corrente mais benignos do que o esperado e a uma reavaliação positiva dos preços de alimentos.

Juros e Crescimento: Rota Mantida

O alívio no front inflacionário deu conforto para o mercado manter suas apostas para a política monetária e para a atividade econômica.

  • Taxa Selic: A projeção para a taxa básica de juros ao final de 2025 permaneceu inalterada em 9,00% ao ano. Para o fim de 2026, a aposta também continuou em 8,50%.
  • Crescimento (PIB): A estimativa para a expansão da economia em 2025 ficou estável em 2,0%, mostrando que, por ora, o mercado não vê a crise externa contaminando significativamente a atividade interna.

Câmbio: O Termômetro da Incerteza Externa

Como esperado, o dólar continua sendo o principal canal de absorção das tensões globais. A projeção para a taxa de câmbio no final de 2025 foi elevada novamente, passando de R$ 5,08 na semana passada para R$ 5,10. É o quarto aumento consecutivo, refletindo a busca global por segurança na moeda americana.

“O Focus desta semana é um ponto fora da curva. A queda na expectativa de inflação, em um ambiente externo tão hostil, é uma lufada de ar fresco”, analisa nosso especialista do FIDCnews. “Isso mostra uma dissociação: o mercado acredita na competência do Banco Central para a agenda doméstica, mas sabe que a instituição tem pouca munição contra a volatilidade que vem de fora, e isso aparece no preço do dólar.”

Implicações para o Mercado de Crédito Privado

O cenário traçado pelo relatório de hoje é construtivo para o investidor de crédito privado. A combinação de uma inflação mais baixa com uma Selic ainda elevada em 9,00% aumenta o retorno real (ganho acima da inflação) das aplicações pós-fixadas, como a maioria dos FIDCs.

A resiliência da projeção do PIB em 2% também é positiva, pois afasta temores de uma recessão que poderia levar a um aumento generalizado da inadimplência corporativa. O risco, como apontado, permanece concentrado no câmbio, exigindo atenção especial dos gestores de fundos com carteiras expostas a empresas com dívidas ou custos atrelados ao dólar.

“Para o investidor de FIDC, o cenário melhora: o retorno real da carteira aumenta”, conclui nosso analista. “A grande questão é se esse otimismo doméstico conseguirá se sobrepor à tempestade que se forma no exterior. O comportamento do dólar nas próximas semanas será o juiz dessa disputa.”


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