Excesso de oferta interna e competição agressiva da Rússia esmagam a rentabilidade do produtor, que já opera no vermelho e deve migrar para o milho na próxima safra, elevando o risco de crédito na cadeia.
O que deveria ser motivo de comemoração, uma safra de trigo historicamente cheia no Brasil, tornou-se uma fonte de grande preocupação para o setor. A combinação de uma produção interna recorde com um cenário externo de competição feroz, especialmente da Rússia, levou ao colapso dos preços pagos ao produtor. Em muitas regiões, a cotação atual já não cobre os custos de produção, gerando um cenário de prejuízo que deve desencadear uma forte redução na área plantada em 2026.
Para o mercado de crédito, o sinal é de alerta máximo. A deterioração da saúde financeira do triticultor eleva o risco de inadimplência em toda a cadeia de financiamento, desde as revendas de insumos até os Fiagros lastreados na cultura.
A Tempestade Perfeita: Excesso de Oferta Interna e Externa
A crise atual é resultado de uma confluência de fatores nos dois lados do balcão:
- Oferta Interna Recorde: Impulsionado pelos bons preços dos anos anteriores e por condições climáticas favoráveis, o produtor brasileiro investiu em tecnologia e colheu uma safra sem precedentes. Esse grande volume inundou o mercado doméstico, pressionando os preços para baixo.
- Competição Internacional Agressiva: No mercado global, a Rússia adotou uma estratégia comercial agressiva, exportando seu trigo a preços muito baixos para ganhar participação de mercado. Isso derrubou as cotações internacionais e tirou a competitividade do trigo brasileiro no exterior.
O resultado é um produtor “espremido”: sem demanda externa e com excesso de produto em casa, ele se vê forçado a vender sua produção por um preço que, muitas vezes, é inferior ao que gastou para plantar.
A Reação em Cadeia: Desestímulo e Migração de Cultura
Diante da rentabilidade negativa, a reação do produtor será direta e inevitável: uma redução drástica da área plantada com trigo no próximo ciclo, em 2026. O desestímulo é generalizado, e a tendência é que os agricultores migrem essa área para culturas de inverno mais rentáveis ou seguras, como o milho safrinha.
“A ‘relação de troca’ para o trigo é a pior em anos. O produtor está perdendo dinheiro”, analisa nosso especialista do FIDCnews. “Ele não vai repetir a aposta no próximo ano. O que veremos é uma migração em massa para o milho, o que, ironicamente, pode criar uma futura escassez de trigo nacional e nos tornar mais dependentes da importação da Argentina.”
Implicações Diretas para o Investidor de Fiagro
Este cenário de prejuízo no campo é uma “luz vermelha” para o mercado de crédito privado. A capacidade de pagamento de toda a cadeia do trigo está comprometida.
- Aumento do Risco de Crédito: Fiagro-FIDCs com alta concentração de recebíveis atrelados ao trigo, sejam CPRs (Cédula de Produto Rural) ou duplicatas de cooperativas e moinhos, enfrentam um risco de inadimplência ou renegociação de dívidas significativamente maior.
- Saúde dos Fornecedores: As revendas de insumos (fertilizantes, defensivos) que venderam a prazo para os triticultores terão dificuldade em receber. Isso contamina a qualidade de crédito dessas empresas, que por sua vez usam seus próprios recebíveis (duplicatas) como lastro para outros FIDCs.
“Para o gestor de FIDC, é o momento de reavaliar a fundo a exposição à cadeia do trigo”, conclui nosso analista. “Não basta ter uma boa garantia; se o produtor não tem receita para pagar, a execução da garantia se torna um processo custoso e complexo. A crise no preço do trigo é um teste de estresse real para a qualidade da análise de risco dos fundos.”
Fontes de Pesquisa:













