Agência projeta safra robusta, mas alerta para irregularidade das chuvas e atraso no plantio em Mato Grosso, acendendo um sinal de alerta sobre a qualidade do crédito da principal commodity do país.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) manteve, em seu último relatório, uma projeção otimista para a safra de soja 2025/2026. No entanto, o otimismo dos números oficiais é ofuscado por um coro de “mas” e “poréns” que vêm diretamente do campo. A própria agência cita preocupações climáticas severas, especialmente a irregularidade das chuvas e o tempo seco em estados-chave, que estão atrasando o plantio e já ameaçam o potencial produtivo da maior commodity do Brasil.
Para o mercado de crédito, este é um momento de pura dissonância: os números oficiais (o “papel”) ainda são bons, mas o risco real (a “lavoura”) está se deteriorando rapidamente. Este é o cenário de maior perigo para a análise de crédito de um Fiagro.
O Conflito: Projeção Otimista vs. Realidade do Campo
A Conab optou pela cautela, mantendo sua estimativa de uma safra volumosa, argumentando que ainda é cedo para quantificar as perdas. Contudo, o relatório não esconde os problemas:
- Atraso no Plantio: A falta de chuvas consistentes, especialmente no Mato Grosso (o maior produtor), está impedindo o avanço das máquinas. O plantio da soja está significativamente atrasado em relação ao ano passado e à média histórica.
- Risco de Replantio: Onde choveu pouco, produtores que se arriscaram a plantar “no pó” já veem um stand (germinação) falho e correm o risco de ter que replantar, o que eleva custos e diminui o potencial produtivo.
- Extremos Climáticos: O cenário não é uniforme. Enquanto o Centro-Oeste sofre com o tempo seco, o Paraná (Sul) registrou excesso de chuvas, que também prejudicaram os trabalhos iniciais.
Implicações para o Risco de Crédito e Fiagros
Este é o momento de maior atenção para o gestor de Fiagro e para o investidor de FIDC. A tese de investimento no agro é, em grande parte, baseada na expectativa de uma colheita farta para honrar os pagamentos. A incerteza climática ataca diretamente esse pilar.
“O mercado vive hoje o pior dos mundos: a incerteza”, analisa nosso especialista do FIDCnews. “Se a seca persistir em Mato Grosso, o que veremos é uma ‘quebra de safra’ que não foi antecipada pelos números oficiais. O produtor terá menos soja para vender, mas a dívida dele (em insumos, CPRs) continua do mesmo tamanho.”
O impacto na cadeia de crédito é direto:
- Risco para CPRs: A Cédula de Produto Rural (CPR), principal lastro de muitos Fiagros, perde sua garantia de entrega. Se o produtor não colhe, ele não entrega o grão ou não tem receita para pagar a CPR financeira.
- Inadimplência na Revenda: O produtor com a receita frustrada deixa de pagar a revenda de insumos. Essa revenda, por sua vez, é a originadora dos recebíveis (duplicatas) que estão dentro de muitos outros FIDCs.
- Qualidade do Lastro: Um FIDC que comprou recebíveis da cadeia da soja acreditando em uma safra cheia pode ver a qualidade de sua carteira se deteriorar rapidamente.
“Para o gestor de FIDC, a projeção da Conab é apenas um número”, conclui nosso analista. “O trabalho real é olhar a microrregião, a previsão do tempo para os próximos 15 dias e o nível de endividamento de cada produtor na carteira. O otimismo oficial não paga o prêmio de risco.”
Fontes de Pesquisa:













