Dinheiro. Foto: José Cruz/Agência Brasil
Analistas alertam para o efeito colateral da medida: o dinheiro extra no bolso do trabalhador deve ir para o consumo imediato, pressionando preços e obrigando o Banco Central a manter a política monetária restritiva por mais tempo.
A isenção do Imposto de Renda para uma faixa maior da população é, sem dúvida, uma medida popular e que traz um alívio imediato para o orçamento doméstico. No entanto, a análise fria dos números mostra que essa injeção de liquidez tem um custo macroeconômico que pode ser pago por todos na forma de juros altos. A CNN Brasil traz à tona o alerta de economistas: o estímulo ao consumo gerado pela medida tem potencial inflacionário real, o que pode travar os planos de relaxamento monetário do Banco Central.
Para o mercado financeiro, a equação é clara: mais dinheiro na mão significa mais demanda. Se a oferta de produtos e serviços não acompanhar esse ritmo, e a indústria hoje opera com capacidade justa, o ajuste se dá via preço. Ou seja: inflação.
O Mecanismo da Pressão Inflacionária
O raciocínio do mercado se baseia no conceito de “propensão marginal a consumir”. Nas faixas de renda que serão beneficiadas pela isenção, a tendência é que quase todo o real extra ganho seja gasto imediatamente, e não poupado.
Isso gera um choque de demanda agregada.
- Curto Prazo: O comércio vende mais, o que é bom.
- Médio Prazo: Se a demanda for forte demais, os preços sobem.
- Reação: Para evitar que essa alta de preços se espalhe, o Banco Central precisa manter o dinheiro “caro”, ou seja, segurar a Selic em patamares elevados para esfriar os ânimos.
O “Cabo de Guerra” com a Selic
O Brasil vive hoje um cenário curioso. De um lado, o governo pisa no acelerador com a isenção fiscal (fiscal expansionista). Do outro, o Banco Central pisa no freio com juros altos (monetário contracionista).
“Essa falta de coordenação custa caro”, analisa nosso especialista do FIDCnews. “O mercado projeta que, por conta desse estímulo extra ao consumo, a taxa Selic terminal, aquela onde os juros devem estacionar, será mais alta do que se imaginava. O sonho de juros de um dígito baixo fica mais distante.”
O Radar para o Investidor de FIDC
Para a indústria de FIDCs, esse cenário de “consumo aquecido com juros altos” cria uma dinâmica específica:
- FIDCs de Varejo e Cartão: Devem ver um aumento no volume de operações (mais gente comprando). Isso gera mais lastro e oportunidades de alocação para os fundos.
- Risco de Inadimplência: O perigo mora na ressaca. O consumidor se sente mais rico com a isenção, gasta mais, mas os juros do rotativo e do parcelado continuam altíssimos. O risco de superendividamento das famílias aumenta, o que pode piorar a performance de FIDCs focados em crédito pessoal (NPL e crédito massificado).
- Rentabilidade: Para o investidor do fundo, a manutenção da Selic alta garante a continuidade dos retornos robustos (CDI gordo) por mais tempo.
Em resumo, a isenção do IR é um combustível potente. Se ele vai fazer o carro da economia andar mais rápido ou apenas superaquecer o motor (inflação), dependerá da capacidade do Banco Central de calibrar os juros, e a aposta do mercado é que essa calibragem será conservadora e dura.
Fontes de Pesquisa:
- CNN Brasil: “Análise: Isenção do IR estimula consumo e pode gerar efeito inflacionário”













