Após quatro meses de quedas que ajudaram a segurar o IPCA, o período de entressafra e fatores sazonais devem reverter a tendência e trazer de volta a inflação no carrinho do supermercado.
O período de trégua no preço dos alimentos, que foi o principal fator de alívio para a inflação brasileira nos últimos quatro meses, está com os dias contados. Analistas de mercado são unânimes em prever que o grupo “Alimentação e Bebidas” voltará a registrar altas e a pressionar o IPCA no último trimestre de 2025. A mudança de rota é explicada majoritariamente por fatores sazonais, como o período de entressafra de diversas culturas.
Essa virada de tendência, embora esperada, representa um novo desafio para o Banco Central em sua missão de convergir a inflação para a meta e serve de alerta para os investidores. O cenário reforça a necessidade de se manter a cautela com a trajetória dos preços, mesmo em um ambiente de juros ainda elevados.
O Fim da “Ajuda” do Campo
Entre junho e setembro, o Brasil viveu um período atípico e bem-vindo de deflação nos alimentos. A boa safra de grãos e de outros produtos agrícolas resultou em uma maior oferta no mercado, o que derrubou os preços na gôndola e foi crucial para que o IPCA geral se mantivesse comportado, dando espaço para o Banco Central conduzir seu ciclo de cortes da Selic com mais tranquilidade.
Esse efeito benéfico, no entanto, foi temporário. Agora, com o fim do pico das colheitas, a oferta de muitos produtos tende a diminuir, iniciando um movimento natural de recomposição de preços.
Entressafra e Sazonalidade: Os Vilões da Vez
O principal motor por trás da expectativa de alta é a entressafra. Com o fim da colheita principal de itens como milho e feijão, e com a oferta reduzida de legumes e verduras típicas de climas mais amenos, os preços tendem a subir.
Além disso, outros fatores sazonais influenciam, como o aumento da demanda por carnes (bovina e de frango) com a proximidade das festas de fim de ano, o que tende a elevar os preços no varejo. Fatores climáticos, como a intensidade das chuvas, também podem impactar a produção de hortaliças, adicionando volatilidade aos preços.
“O alívio nos alimentos foi o grande herói da inflação em 2025, mas essa ajuda era sazonal”, analisa nosso especialista do FIDCnews. “A volta da pressão deste grupo não deve mudar o plano de voo do Copom para a Selic neste ano, mas certamente adiciona um viés de alta para a inflação de 2026. A batalha contra a inflação ainda não está totalmente vencida.”
Implicações para o Mercado de Crédito e o Investidor
A volta da inflação de alimentos tem um impacto direto no poder de compra das famílias, especialmente as de renda mais baixa, cujo orçamento é mais comprometido com o supermercado. Uma corrosão na renda disponível pode, marginalmente, aumentar o risco de crédito no varejo e em serviços.
Para o investidor de FIDC e de outros ativos de renda fixa, a mensagem é que o retorno real (ganho acima da inflação) pode ser ligeiramente pressionado nos próximos meses. Se a Selic está estável e a inflação corrente sobe um pouco, o ganho efetivo diminui.
“Isso reforça a importância de se buscar ativos que ofereçam um bom spread de crédito sobre o CDI”, conclui nosso analista. “É esse prêmio extra que garantirá a proteção do capital e uma rentabilidade real atrativa mesmo em um cenário de inflação de alimentos um pouco mais ‘salgada’.”
Em resumo, a esperada alta nos alimentos não é motivo para pânico, mas um lembrete da complexidade do cenário inflacionário brasileiro, exigindo vigilância constante por parte de investidores e da autoridade monetária.
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