Indicador conhecido como “relação de troca” se deteriora para a maior parte do agronegócio, com sojicultores precisando vender mais para comprar os mesmos insumos. Cafeicultores, no entanto, vivem cenário oposto.
Um dos termômetros mais importantes da saúde financeira do campo acendeu a luz amarela. A “relação de troca” — indicador que mede o poder de compra do produtor rural — piorou para a maioria das culturas no Brasil. Com a queda nos preços de commodities como a soja e o milho e a manutenção dos custos de insumos e máquinas em patamares elevados, os agricultores precisam produzir e vender mais sacas para comprar os mesmos produtos de um ano atrás.
Em um movimento que vai na contramão da tendência geral, o setor de café se destaca como a grande exceção. Graças à valorização do grão no mercado, o poder de compra do cafeicultor melhorou, colocando o segmento em uma posição de rentabilidade consideravelmente mais confortável. Essa divergência setorial é um recado claro para o mercado de crédito sobre a importância da análise e da diversificação.
Entendendo a “Relação de Troca”
A relação de troca é um cálculo simples, mas poderoso. Ela mede, por exemplo, quantas sacas de soja um produtor precisa vender para comprar uma tonelada de fertilizante ou um trator. Quando esse número aumenta, significa que o poder de compra do agricultor diminuiu; sua margem de lucro está sendo espremida. Quando o número cai, sua rentabilidade melhora.
Grãos e Pecuária: Vender Mais para Comprar o Mesmo
Para os produtores de grãos e parte da pecuária, o cenário é de aperto. A normalização dos preços das commodities, que recuaram dos picos históricos vistos nos últimos anos, não foi acompanhada por uma queda proporcional nos custos de produção. Máquinas agrícolas, defensivos e fertilizantes, embora com alguma queda, ainda pesam no orçamento, deteriorando a relação de troca.
Isso significa que a rentabilidade por hectare está menor, o que pode levar a um aumento do endividamento e à postergação de investimentos por parte dos produtores.
“A relação de troca é o ‘exame de sangue’ da saúde financeira do produtor”, analisa nosso especialista do FIDCnews. “O indicador de hoje mostra que a ‘saúde’ do sojicultor está se deteriorando, enquanto a do cafeicultor está melhorando. Essa distinção é vital para a análise de risco.”
Implicações para o Mercado de Crédito e Fiagros
Essa divergência entre as culturas tem um impacto direto na qualidade dos ativos de crédito do agronegócio.
- Risco Elevado nos Grãos: Um Fiagro ou FIDC com alta concentração de crédito em produtores de soja e milho (via CPRs ou duplicatas de revendas) precisa estar ciente de que seus devedores estão operando com margens mais apertadas. O risco de renegociação ou inadimplência, embora ainda baixo, aumenta nesse cenário.
- Cenário Positivo no Café: Por outro lado, fundos com exposição à cadeia do café encontram um ambiente mais favorável, com devedores capitalizados e com maior capacidade de pagamento, fruto de uma relação de troca positiva.
“Para um gestor de Fiagro, a lição é clara: não basta saber que o ‘agro’ vai bem; é preciso saber qual agro”, conclui nosso analista. “A diversificação entre diferentes culturas e regiões geográficas dentro da carteira de crédito nunca foi tão essencial como agora para mitigar riscos e capturar as melhores oportunidades.”
Em suma, a piora na relação de troca para a maior parte do campo serve de alerta para um possível estresse financeiro à frente, exigindo maior seletividade e diligência de credores e investidores.
Fontes de Pesquisa:













