Atividade comercial do gigante asiático cresce no ritmo mais lento em seis meses, reflexo da queda na demanda global e de lockdowns internos. Cenário acende alerta para o escoamento das commodities brasileiras.
Os motores da economia chinesa, que operaram em alta velocidade nos últimos meses, começam a dar sinais de arrefecimento. Dados oficiais divulgados em Pequim mostraram que as exportações do país cresceram em agosto no ritmo mais fraco dos últimos seis meses, frustrando as expectativas do mercado. A desaceleração da segunda maior economia do mundo e principal parceiro comercial do Brasil é um sinal de alerta de primeira grandeza para os setores exportadores brasileiros, especialmente o de commodities.
A queda na demanda externa, que reflete o aperto monetário nas economias desenvolvidas, e os persistentes lockdowns contra a Covid-19 no país asiático criam um cenário de incerteza que pode impactar diretamente os preços da soja, do minério de ferro e da carne, afetando a rentabilidade de toda a cadeia produtiva nacional.
Os Números da Desaceleração
As exportações chinesas registraram um crescimento de 7,1% em agosto, na comparação anual. O número, embora positivo, representa uma forte desaceleração frente à expansão de 18% vista em julho e veio bem abaixo da previsão de 12,8% dos analistas. Trata-se de uma evidência clara de que a demanda global por produtos chineses está enfraquecendo, à medida que a inflação e os juros altos nos Estados Unidos e na Europa começam a pesar no bolso do consumidor.
As importações chinesas também mostraram fragilidade, crescendo apenas 0,3%, muito aquém dos 2,3% registrados no mês anterior. Este dado é particularmente preocupante para o Brasil, pois indica uma demanda interna chinesa menos aquecida.
O Efeito Dominó: Como a China Impacta o Agro Brasileiro
A China é o destino de mais de um terço das exportações do agronegócio brasileiro. A conexão é direta e vital:
- Menor Atividade Industrial: Uma China que exporta menos precisa de menos matéria-prima, como o minério de ferro brasileiro.
- Consumo Interno Fraco: Uma economia que cresce menos e enfrenta lockdowns significa menor consumo de alimentos, o que pode reduzir a demanda por soja (usada em ração animal) e pela carne bovina e suína do Brasil.
“O mercado brasileiro de capitais, especialmente o Fiagro, está umbilicalmente ligado à China”, analisa nosso especialista do FIDCnews. “O dado de exportação de hoje pode parecer distante, mas ele é um dos primeiros indicadores de uma possível queda na demanda por nossas commodities. Uma desaceleração chinesa prolongada significa pressão de baixa nos preços e, consequentemente, menor receita para o produtor rural.”
Implicações para o Crédito e o Investidor de FIDC
Para o investidor, a mensagem é clara: o risco macroeconômico global está aumentando. Uma eventual queda nos preços das commodities afeta diretamente a capacidade de pagamento dos produtores e das tradings, que são os originadores dos recebíveis que lastreiam muitos Fiagro-FIDCs.
“Para o gestor de FIDC, ignorar a macroeconomia chinesa é como navegar sem olhar para o céu; a tempestade pode se formar rapidamente”, conclui o analista. “A análise de crédito precisa incorporar este cenário de potencial arrefecimento da demanda. A diversificação de culturas, devedores e regiões se torna ainda mais importante para mitigar o risco de uma crise de preços.”
Ainda é cedo para determinar se a desaceleração de agosto é um ponto fora da curva ou o início de uma tendência de longo prazo. De qualquer forma, o dado serve como um lembrete crucial da vulnerabilidade externa da economia brasileira e da necessidade de monitorar atentamente os indicadores vindos da Ásia.
Fontes de Pesquisa:













